A vacina
antiviolência
Os casos de Bogotá e Medellín mostram que ela já foi inventada e não depende de pôr fim à miséria
Os casos de Bogotá e Medellín mostram que ela já foi inventada e não depende de pôr fim à miséria
OS ataques
do PCC combinados às eleições tiraram o foco de um dos fatos sociais mais interessantes do país :
a veloz e consistente redução do número de homicídios
em São
Paulo. Nos últimos
cinco anos ,
a queda foi de 51%, devido ,
em boa parte ,
à evolução da segurança
da região metropolitana e, especialmente , da capital ,
onde houve avanços
nas áreas mais
violentas.
Embora fundamental ,
só o aprimoramento
do policiamento não explica o fenômeno . Olhando mais
de perto os bairros
em que
mais caiu a violência ,
vemos uma teia de ações
que envolvem a mobilização comunitária , a atuação
de entidades não-governamentais, o apoio de empresas , o trabalho com grupos de risco
-os jovens-, as campanhas de desarmamento , a reforma de espaços
públicos e a oferta
de programas de complementação de renda .
Se o PSDB eseu candidato
à Presidência , Geraldo Alckmin, têm motivos para apresentar
os números da segurança
como uma vitória ,
o PT também pode lembrar
que programas
seus na periferia
de São Paulo, como
a ampliação da renda
mínima e a criação
de áreas de convivência ,
exerceram impacto nos
índices de homicídio .
Uma das melhores experiências
de segurança , no país ,
é Diadema , comandada por um petista.
Saber quem
deve faturar ou
não com
um avanço social é compreensível
num ano eleitoral .
Mas , convenhamos, é uma visão medíocre .
Digo isso pois
acabo de voltar da Colômbia, onde
fui conhecer experiências
em Bogotá e Medellín, apontadas como as cidades
mais violentas do mundo ,
hoje convertidas em
laboratórios de paz .
Apenas em
Medellín, por exemplo ,
a taxa de assassinatos
caiu em 90%; boa parte
dessa queda ocorreu nos
últimos três
anos .
Se o PSDB e
As duas cidades mostram que a vacina para reduzir níveis
de violência , mesmo
em lugares
pobres , já
foi inventada e não depende de acabar a miséria . Isso significa que ,
apesar dos avanços
em São
Paulo, eles poderiam ser
ainda mais
profundos e rápidos .
Significa ainda que
o Brasil não precisa
reinventar a roda
para reduzir sua insegurança nas ruas .
Para nós , brasileiros , Bogotá e Medellín, com
sua pobreza
de Terceiro Mundo ,
são casos
ainda mais
interessantes que Nova
York, onde a renda
e o emprego são
os de uma nação rica .
Mais do que
isso , a violência
na Colômbia é extraordinariamente complexa ,
por misturar diversos grupos
de guerrilheiros , narcotraficantes, paramilitares , gangues
juvenis e assaltantes comuns .
Aprimeira lição
que tiramos dali é: os três níveis de governo -nacional, estadual e municipal- trabalham
articuladamente. O prefeito , o chefe da polícia ,
exerce forte papel
na execução de planos
de segurança . Essa é a prerrogativa
dos prefeitos das regiões
metropolitanas. Mas a polícia continua sendo nacional .
Acidade cobra
o desempenho do prefeito
em questões
como roubo e furtos assim como sobre a limpeza das ruas e a qualidade de ensino .
A
A
Os
Filósofo, matemático e pedagogo , Antanas Mockus assumiu, em
95, a prefeitura de Bogotá e, em meses, determinou que
bares fechassem mais
cedo para reduzir riscos
provocados pelo álcool .
Apanhou não só
dos amantes das noitadas ,
mas porque
a medida parecia sem
importância numa cidade
convulsionada pela guerra
de quadrilhas , com
4.300 assassinatos por
ano .
Noauge da polêmica ,
ele levou um
grupo de jovens
ao cemitério ; era
exatamente o número
dos que teriam morrido, segundo os cálculos
da prefeitura , sem
a "lei seca ".
Tirou uma foto deles na frente das covas
e lembrou que , naquele momento , já
estariam não em
cima , mas
debaixo da terra .
Virou a opinião pública
a seu favor .
"O crime é o resultado
do fracasso da pedagogia ."
Por causa
dessa idéia , tratou de adotar
ações para mudar a cultura do
morador e, assim , gerar
um ambiente
mais pacífico .
Não foram poucos
os que o chamaram de "louco " e "palhaço "
quando ele
contratou mímicos. "O trânsito , com seus
inúmeros acidentes , era
o melhor reflexo
de nossa selvageria ."
Os motoristas não
tinham o hábito , por
exemplo , de respeitar
a faixa de pedestres .
E, aí , entravam os mímicos, fazendo brincadeiras com
os transgressores , obviamente
constrangidos. As multas viriam mais tarde . A prefeitura distribuía centenas
de milhares de cartões
que mostrassem aprovação
e desaprovação . "Rapidamente, as pessoas , em vez de xingar ou de sequer reclamar , mostravam os cartões .
Crianças aprenderam a vaiar quem
avançasse na faixa ."
Para que todos visualizassem os traumas
de trânsito , Mockus mandava pintar cruzes no asfalto exatamente
no local em
que ocorriam os acidentes .
Criou o hábito de divulgar
todos os meses, sem
exceção , a estatística
de homicídios na cidade ,
acompanhada pela opinião
pública como
se fosse resultado do campeonato de futebol .
Tal atitude educativa , segundo
ele , deveria ser
levada para atividades da cidade .
Os centros de recuperação
de jovens infratores
são tidos como
modelo mundial -extremamente focados na aprendizagem
e administrados por uma entidade privada .
No
A força
da biblioteca
Além das medidas
repressivas, preventivas e educacionais ,
implementaram-se reformas urbanas nos bairros mais pobres , alguns
deles nas montanhas , totalmente isolados. Construíram-se escadas , promoveu-se a coleta
do lixo , escolas
foram ampliadas, abriram centros de saúde e ofereceu-se um
sistema de transporte
-em alguns casos ,
de teleférico .
Para acompanhar , em detalhes , a evolução de cada
indicador , nasceu um
entidade civil
chamada "Como
Vamos Medellín", cujos resultados são amplamente divulgados pela
mídia . É uma espécie
de termômetro para
medir qualidade
de vida , em
que se contabilizam desde
seqüestros , roubos ,
furtos até
evasão escolar ,
gravidez precoce ,
renda dos trabalhadores
e desemprego.
Nestemomento , estão construindo numa
das regiões mais
pobres uma imensa
biblioteca , em
meio ao verde
para servir de ponto de encontro tanto quanto de
leitura . A idéia
é que , em
cada bairro ,
o principal centro
seja uma biblioteca . "Achamos que quem gosta de ler não gosta de matar ", aposta
Salazar.
Neste
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Os
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