Nobolo Mori diz atender a quarta geração de algumas famílias.
Outros médicos que já passaram dos 70 também não pensam em parar.
Aos 92 anos, o médico Nobolo Mori, de Mogi das Cruzes (SP), trabalha todos os dias, de manhã e à tarde, em um hospital particular da cidade. Enquanto a maioria das pessoas sonha com a aposentadoria, ele e alguns colegas não pensam em pendurar o estetoscópio.
Para Mori, já são 62 anos dedicados à medicina. Mesmo com o aumento do número de médicos na cidade, ele diz que pacientes não faltam. Especialmente, os mais antigos. “Tem famílias que estão na quarta geração e eu continuo fazendo o atendimento de todos.” Para o médico é preciso ser útil enquanto está vivo. “A medicina é uma maneira de ser útil. O médico dá a sua vida para salvar vidas.”
Desde que se formou em 1953 na Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro, não parou mais. “Em 1954 comecei a trabalhar como médico em Mogi das Cruzes. Meu pai era lavrador e queria que eu fosse médico”, conta Mori.
Ele diz que ao chegar na cidade, onde os pais já moravam, foi trabalhar na Santa Casa. “Naquela época no hospital só tinha o Doutor Rosa, Milton Cruz, Nelson Cruz e Nelson Straube. A gente trabalhava dia e noite na Santa Casa. E tinha muito chamado até a casa de paciente. Eu ia muito no Cocuera atender as famílias japonesas porque sou descedente também e falo o idioma”, lembra.
O atendimento ao paciente naquela época fazia toda a diferença, destaca Nobolo Mori. Isso por causa da falta de exames tão avançados quanto hoje. “A gente tinha que saber os nomes de remédios, os nomes das doenças, os sintomas e pedir exames de laboratório para poder diagnosticar melhor, como sangue, urina e fezes.” Nobolo Mori acompanhou a evolução da medicina em Mogi das Cruzes. Além de atender, ele idealizou e construiu um hospital na cidade que foi inaugurado em 1962. “Fiz o hospital porque tinham poucos e precisava de mais vagas. Aí decidi fazer o hospital. O desafio foi bom para mim e outros colegas que fundaram a unidade comigo.”
Medicina para continuar vivo
Aos 74 anos, o médico Péricles Bauab já tem quase 45 anos dedicados à medicina e nem pensa em parar. “Na nossa profissão parar é suícidio. Eu diminui meu ritmo, mas há dois anos fui convidado para participar da diretoria de um hospital particular da cidade. Hoje alterno entre a diretoria técnica e a superintendência e ainda atendo no meu consultório.” Bauab é de Sabino, interior de São Paulo, e formou-se em medicina em 1970 na Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo.
Aos 74 anos, o médico Péricles Bauab já tem quase 45 anos dedicados à medicina e nem pensa em parar. “Na nossa profissão parar é suícidio. Eu diminui meu ritmo, mas há dois anos fui convidado para participar da diretoria de um hospital particular da cidade. Hoje alterno entre a diretoria técnica e a superintendência e ainda atendo no meu consultório.” Bauab é de Sabino, interior de São Paulo, e formou-se em medicina em 1970 na Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo.
Mogi das Cruzes entrou em sua vida depois que recebeu o convite para fazer plantões na antiga Maternidade Mãe Pobre. Era um trabalho temporário, mas ele diz que gostou tanto da cidade que acabou deixando a capital.
Para o obstetra e ginecologista, na medicina de antigamente era fundamental saber tirar as informações do paciente já que não existiam exames tão complexos e precisos quanto os atuais. “Não tinha ultrassom e nem sonar para ouvir o coração do bebê. A gente usava um instrumento de madeira em forma de tubo para ouvir o coração. Antes o diferencial do médico era a experência clínica. Os exames atuais facilitaram bastante a vida do médico.”
Para quem começou na profissão sem esses recursos tão avançados, Bauab conta que a atualização foi e ainda é constante. “Sempre gostei de participar de cursos e foi preciso para entender o ultrassom e outros exames que foram temas que a gente não tinha na faculdade.”
Com tanto tempo dedicado à profissão, o médico acumula pacientes de várias gerações. Bauab diz que a mãe traz a filha que muitas vezes nasceu sob seus cuidados. “Faço com muito amor. Minha clientela sabe que gosto da medicina e faço com carinho. Não me canso. Deus me livre de me aposentar. Se aposentar tenho que fazer outra coisa.”
Parto à luz de lampião
Criado em Mogi das Cruzes, Glauco de Lorenzi deixou a cidade para estudar medicina no Rio de Janeiro onde se formou em 1966. Depois retornou para a cidade onde se dedica aos seus pacientes há 50 anos. Ele se recorda do tempo em que atuava como médico na Santa Casa de Mogi das Cruzes, trabalhando no mínimo 16 horas por dia. A jornada ficava ainda maior com os atendimentos feitos na casa dos pacientes. “Uma coisa que hoje não existe mais, mas que era muito comum quando comecei na medicina eram os chamados nas residências. Eu fiz vários partos em casa, especialmente no bairro do Cocuera. Em Mogi tinha muita parteira e quando elas não conseguiam fazer o parto chamavam o médico. Eu fiz parto à luz de lampião no Cocuera. Chegava na casa, a parteira estava pálida por conta das dificuldades com o parto e o marido nervoso.”
Criado em Mogi das Cruzes, Glauco de Lorenzi deixou a cidade para estudar medicina no Rio de Janeiro onde se formou em 1966. Depois retornou para a cidade onde se dedica aos seus pacientes há 50 anos. Ele se recorda do tempo em que atuava como médico na Santa Casa de Mogi das Cruzes, trabalhando no mínimo 16 horas por dia. A jornada ficava ainda maior com os atendimentos feitos na casa dos pacientes. “Uma coisa que hoje não existe mais, mas que era muito comum quando comecei na medicina eram os chamados nas residências. Eu fiz vários partos em casa, especialmente no bairro do Cocuera. Em Mogi tinha muita parteira e quando elas não conseguiam fazer o parto chamavam o médico. Eu fiz parto à luz de lampião no Cocuera. Chegava na casa, a parteira estava pálida por conta das dificuldades com o parto e o marido nervoso.”
A medicina era mais humanizada, menos exame e mais carinho", Glauco de Lorenzi médico há 50 anos
Como não existiam exames avançados, pronto-socorros ou farmácias de plantão 24 horas, Lorenzi lembra que o médico tinha que estar preparado para emergências a qualquer hora. “Eu tinha uma mala pronta no meu fusca para fazer os atendimentos de última hora. Lá tinha de tudo: materiais de sutura, remédios, enfim tudo que eu pudesse precisar em um atendimento de urgência.”
Outra dificuldade de exercer a medicina antigamente era a falta de exames complementares, diz o médico. “Quando comecei Mogi tinha dois laboratórios e dois aparelhos de Raio X. Um ficava na Santa Casa e outro em um prédio comercial no Largo do Rosário. Era o que a gente dispunha. Era preciso examinar e ouvir muito bem o paciente para poder fazer o diagnóstico. Os remédios também não eram tão poderosos quanto hoje. Enfim não era fácil, era bastante difícil. Além disso tudo, todos os farmacêuticos da cidade faziam as vezes de médico. Antes de ir ao médico, o cidadão ia à farmácia e também à benzedeira. Quando não tinha jeito mesmo corria para o médico.”
Com o passar do tempo, o médico conta que os exames foram surgindo, como o ultrassom e tomografia e todos precisaram se atualizar para acompanhar os avanços. “Não me formei, eu ganhei um diploma. O médico não se forma nunca porque ele precisa estudar sempre. Tem coisa que a gente esquece e precisa rever. Hoje com a internet facilitou demais. Mesmo os mais idosos têm que lidar com a internet que é um recurso valioso de informação.”
Atualmente, o médico trabalha nove horas em média em seu consultório e também na Prefeitura. Especializado em cirurgia de cabeça, pescoço e geral, Lorenzi afirma que já virou médico de família, o famoso clínico geral.
Aos 74 anos, Lorenzi lembra com carinho dos tempos de dificuldade do início da carreira. “A medicina era mais humanizada, menos exame e mais carinho.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente aqui.......