E se o El Niño deste ano for igual ao de 1997?
Para o Brasil, El Niño significa seca no Nordeste e enchentes no Sul
Em março
deste ano, os satélites da Nasa identificaram que a temperatura da superfície do
Oceano Pacífico estava mais
quente do que o normal, indicando a ocorrência do fenômeno El
Niño. Na ocasião, eles achavam que seria um fenômeno fraco. Nesta
semana, no entanto, os cientistas reavaliaram os dados
e concluíram que podemos estar diante de um El Niño forte - talvez tão forte
quanto o de 1997-1998, considerado um dos mais intensos já identificados.
O
El Niño é um fenômeno natural que acontece quando a superfície do mar
perto do Chile e do Peru fica
mais quente.
Nesses países, ele provoca chuvas na época do Natal, e por isso ganhou o nome de
"niño", uma referência ao "menino Jesus". Mas esse fenômeno interfere no clima
de muitas partes do mundo. Como o mar está mais quente, há mais evaporação e
mais formação de nuvens, alterando a circulação atmosférica e provocando secas e
cheias em regiões tão distintas quanto as Américas, Austrália, Índia e
Japão.
Segundo
a Nasa, todos os sinais indicam que teremos um El
Niño de moderado a forte neste
ano. E a análise dos mapas de calor no Oceano Pacífico mostra uma semelhança
muito grande com o mesmo período de 1997, o início do mais intenso El Niño já
registrado. "Não estamos completamente certos ainda de que será um fenômeno
forte, mas os sinais estão indicando isso. Saberemos até outubro", disse o
climatologista Bill Patzert, em nota da Nasa. A figura abaixo mostra a semelhança entre o aquecimento
do oceano em 1997 e 2015.
Aqui
no Brasil, também já é possível ver algumas semelhanças entre o fenômeno de 1997
e 2015. Em 1997, o inverno foi ameno em São Paulo, com temperaturas um pouco
acima do normal. Exatamente como aconteceu com julho deste ano: a temperatura
mínima de São Paulo foi 1,9ºC mais quente no mês, e a máxima, 0,8ºC acima da
média, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). No Sul, as chuvas
acima da média começaram no inverno neste ano, assim como o esperado em anos de
El Niño, segundo o Centro de Previsão do Tempo do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (Inpe).
Se
o El Niño deste ano for mesmo tão intenso quanto o de 1997, nós começaremos
a sentir
seus efeitos a partir de outubro. Que efeitos são esses? Em 1997-98, o
El Niño provocou:
- Excesso
de chuva durante a primavera e
o verão na região
Sul, com médias acima de 50mm de chuva por mês;
- Seca
severa no período de fevereiro
a maio do ano seguinte noNordeste,
com forte queda na quantidade de chuva na região;
- Seca no leste da Amazônia,
provocando um boom de queimadas e incêndios
florestais;
- Verão
quente no Sudeste,
com temperaturas de 1ºC a 4ºC mais quente que a média.
É
preciso levar em consideração que, até hoje, nunca houve um El Niño exatamente
igual a outro. Então os efeitos de um fenômeno forte neste ano podem ser
ligeiramente diferentes. Mas é pouco provável que o clima das regiões Sul e
Nordeste e da Amazônia saiam impunes. Além disso, se a previsão para o Sudeste
se comprovar, uma boa parte da população brasileira poderá sentir na pele o que
é um aumento
de até 4ºC na média da temperatura em pleno verão – o que, segundo a
ONU, pode acontecer se nada for feito para impedir o aquecimento
global, um aumento da temperatura que, diferentemente do El Niño, é causada
pela ação humana.
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