domingo, 9 de agosto de 2015


E se o El Niño deste ano for igual ao de 1997?


Para o Brasil, El Niño significa seca no Nordeste e enchentes no Sul

Efeitos do El Niño no Brasil. Fonte: CPTEC/Inpe (Foto: André Fagundes Souza e Giovana Tarakdjian/ÉPOCA)
Em março deste ano, os satélites da Nasa identificaram que a temperatura da superfície do Oceano Pacífico estava mais quente do que o normal, indicando a ocorrência do fenômeno El Niño. Na ocasião, eles achavam que seria um fenômeno fraco. Nesta semana, no entanto, os cientistas reavaliaram os dados e concluíram que podemos estar diante de um El Niño forte - talvez tão forte quanto o de 1997-1998, considerado um dos mais intensos já identificados.
O El Niño é um fenômeno natural que acontece quando a superfície do mar perto do Chile e do Peru fica mais quente. Nesses países, ele provoca chuvas na época do Natal, e por isso ganhou o nome de "niño", uma referência ao "menino Jesus". Mas esse fenômeno interfere no clima de muitas partes do mundo. Como o mar está mais quente, há mais evaporação e mais formação de nuvens, alterando a circulação atmosférica e provocando secas e cheias em regiões tão distintas quanto as Américas, Austrália, Índia e Japão.
Segundo a Nasa, todos os sinais indicam que teremos um El Niño de moderado a forte neste ano. E a análise dos mapas de calor no Oceano Pacífico mostra uma semelhança muito grande com o mesmo período de 1997, o início do mais intenso El Niño já registrado. "Não estamos completamente certos ainda de que será um fenômeno forte, mas os sinais estão indicando isso. Saberemos até outubro", disse o climatologista Bill Patzert, em nota da Nasa. A figura abaixo mostra a semelhança entre o aquecimento do oceano em 1997 e 2015.
Mapas da Nasa mostram o El Niño de 1997 (esq.) e de 2015 (dir.). Quanto mais vermelho, mais quente a superfície do Oceano Pacífico. Os dois episódios mostram semelhanças no padrão do fenômeno (Foto: Nasa)
Aqui no Brasil, também já é possível ver algumas semelhanças entre o fenômeno de 1997 e 2015. Em 1997, o inverno foi ameno em São Paulo, com temperaturas um pouco acima do normal. Exatamente como aconteceu com julho deste ano: a temperatura mínima de São Paulo foi 1,9ºC mais quente no mês, e a máxima, 0,8ºC acima da média, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). No Sul, as chuvas acima da média começaram no inverno neste ano, assim como o esperado em anos de El Niño, segundo o Centro de Previsão do Tempo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Se o El Niño deste ano for mesmo tão intenso quanto o de 1997, nós começaremos a sentir seus efeitos a partir de outubro. Que efeitos são esses? Em 1997-98, o El Niño provocou:
Excesso de chuva durante a primavera e o verão na região Sul, com médias acima de 50mm de chuva por mês;
Seca severa no período de fevereiro a maio do ano seguinte noNordeste, com forte queda na quantidade de chuva na região;
Seca no leste da Amazônia, provocando um boom de queimadas e incêndios florestais;
Verão quente no Sudeste, com temperaturas de 1ºC a 4ºC mais quente que a média.
É preciso levar em consideração que, até hoje, nunca houve um El Niño exatamente igual a outro. Então os efeitos de um fenômeno forte neste ano podem ser ligeiramente diferentes. Mas é pouco provável que o clima das regiões Sul e Nordeste e da Amazônia saiam impunes. Além disso, se a previsão para o Sudeste se comprovar, uma boa parte da população brasileira poderá sentir na pele o que é um aumento de até 4ºC na média da temperatura em pleno verão – o que, segundo a ONU, pode acontecer se nada for feito para impedir o aquecimento global, um aumento da temperatura que, diferentemente do El Niño, é causada pela ação humana.

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